Editorial
A ubimuseum entra no seu segundo ano em rede e nela insiste ao disponibilizar os novos elos que unem o Museu de Lanifícios à sociedade envolvente, cumprindo a sua missão “na rota da lã”, na região culta da Beira Interior e em todo do mundo. Um excelente rol de novos artigos faz a prova do crescimento da revista e do reconhecimento da comunidade científica que nela quis participar ativamente. Os colaboradores do Museu de Lanifícios abrem por ela uma janela de algumas das suas atividades. A “Bibliografia dos Lanifícios”, que começamos a publicar, representa a entrada do Museu de Lanifícios na Rede História, Indústria, Património, onde foi apresentada como comunicação, no seu primeiro congresso e é ponto de partida de um projeto mais longo do seu Centro de Documentação. De imediato, demonstramos a intimidade da nossa ligação às diferentes faculdades da Universidade da Beira Interior com algumas das conferências das Tardes de Quinta e outras, aqui proferidas, transformadas em artigos. A Economia da Cultura, a Muralha da Covilhã, o Património Cisterciense e a Representação do Mundo e da Região Inteligente, em que estamos inseridos, foram seguidas no nosso auditório por algumas centenas de participantes ativos no espaço público covilhanense e ficam à espera de ser lidas por milhares acrescentados, na forma de artigo, para que se perceba o dever de os governantes tornarem o setor cultural estratégico para o desenvolvimento. As taxas de crescimento do setor cultural, mesmo em período de crise, dizem-nos que podem promover o emprego, particularmente entre os mais jovens, dado o seu mais fácil envolvimento com as novas tecnologias da informação e do conhecimento como José Pires Manso demonstrou. A importância dos centros urbanos na formação da identidade das cidades portuguesas fica documentada na forma cuidadosa como Michael Mathias aborda as muralhas da Covilhã. Suportando o seu discurso em informação disponível e em trabalho de campo, ele transmite-nos a ideia da evolução dos elementos patrimoniais mais antigos da Covilhã e dos seus imóveis de interesse público. Para a formação da identidade beirã, ficamos a saber que foi extraordinariamente importante a contribuição cisterciense nos primeiros séculos da portugalidade. Ana Maria Martins mostra-nos, para além dos elementos arquitetónicos e patrimoniais, as marcas da sua espiritualidade: a comunhão com a natureza e o divino. Os desenhos belíssimos são do mestre Jorge Braga da Costa. Nós tentamos perceber a Beira Interior como uma região inteligente na sua capacidade de desenvolvimento a partir da perceção do homem no Cosmos, reproduzindo aqui a conferência que proferimos para os membros da Ordem dos Engenheiros da Região Centro. Finalmente, demonstramos a nossa entrada ativa na Rede de Estudos do Trabalho, do Movimento Operário e dos Movimentos Sociais em Portugal publicando uma dezena das comunicações mais próximas das nossas temáticas, proferidas no seu primeiro congresso no passado mês de março: a transformação das relações no mundo laboral derivadas das novas dinâmicas do capitalismo em exploração acrescida no trabalho precário, vista pela Ana Elizabete Mota; os conceitos de repertório e de movimento social, dentro da longa e policromada democracia liberal portuguesa (1834-1910), abordados pelo Diego Palacios Cerezales; o confronto entre a classe operária e os representantes do capitalismo, aquela, em movimentos organizados, por uma vida melhor, estes, determinados pelo lucro voraz, em momentos marcantes da História do Século XIX, por Fernando de Araújo Bizerra e Reivan Marinho de Souza; uma reflexão sobre as tradições teóricas das relações laborais, para conferir o potencial retrocesso social com o caso português, como referência, chega-nos por Hermes Augusto Costa; a cultura operária ao vivo, do bairro de Santo António, aqui ao nosso lado, é trazida à colação pelo João Mineiro; As lutas operárias dos operários têxteis da Bacia do Ave, entre 1956 e 1974, são vistas através da imprensa clandestina e/ou progressista do tempo por um colaborador nosso de longa data, José Manuel Lopes Cordeiro; a história do trabalho no feminino ou na perspetiva da mulher e da sua participação no movimento sindical português mereceu a colaboração excelente de Paulo Marques Alves e Olinda Gama; A mineração a céu aberto, vista em dois dos mais telúricos espaços da Beira Interior, o vale da Gaia e o vale do Mondego, e a conflitualidade daí resultante com o mundo camponês e o espaço culto da cidade da Guarda, em um período crítico do século XX, nos anos finais da Primeira República, chega-nos no texto de Pedro Gabriel Silva; Sofia Sampaio deixa aqui uma excelente colaboração para a História do Cinema Português, demonstrando como este foi capaz de passar de uma retórica de invisibilidade para outra de desocultação, tomando os filmes de promoção turística como objeto de análise, entre eles, os que promovem a nossa Estrela; finalmente, fica reportada a greve de 1943, no Barreiro, em que Vanessa Almeida não deixa de citar o movimento operário mais amplo despoletado, em Novembro de 1941, nas fábricas de lanifícios da Covilhã e daí a nossa seleção para a ubimuseum.